Capítulo 8 – O Projétil Prateado


Sua cabeça rodava constantemente, era a mesma sensação que ele sentiu quando passou pela Janela de Gondolous. Ele arfava, por isso demorou a reparar à sua volta, mas logo após se tranqüilizar, olhou para os lados, e tudo se resumia a dunas de areia fina, com o Sol a pino acima deles. Virou-se para trás e viu um tipo de arco feito de pedra, com nenhum preenchimento, ele se levantou com dificuldade e foi até ele, olhou para fora e se impressionou ao perceber que estavam milhares de metros acima do chão. A areia caia como uma cachoeira branca e fina, ao longo de todo o horizonte, ele não conseguia ver o que havia lá em baixo devido às nuvens que tampavam sua visão. Ele voltou correndo ao encontro de Jacques e Hermes que se encontravam cerca de 10 metros a frente.
Eles observavam alguma coisa no chão, Caliel se aproximou sorrateiramente, mas mesmo assim Hermes o percebeu:
_ Bro! Você demorou, achei que tivesse se perdido, ou caído na cachoeira. Mesmo assim parece que temos companhia, então vamos agilizar?
_ Mas não tem ninguém em nenhuma das direções...
_ O que está em cima da areia não nos preocupa... – Disse Jacques, se levantando e tirando uma esfera de metal do bolso. – Vamos ter que usar o método ilegal para cortar o deserto, a pé seremos alvos fáceis. – Então Jacques se aproximou de um monte de areia, com os pés tirou o excesso, revelando um tipo de trilho. Caliel se espantou, como será que ele tinha adivinhado que estaria ali, e antes que tivesse tempo de demonstrar surpresa, Jacques jogou a bola nos trilhos e, assim como Illik e Roy, disse:
_ Technique de Vestibule – Invoquer La Balle d'argent – Revelando um longo e compacto trem bala prateado, com detalhes incríveis, e incrivelmente sólidos, como se tivesse sido feito da mesma peça de metal, sem nenhuma dobra ou solda, nem as portas ou janelas podiam ser observadas. Jacques moveu a sua mão direita, com dois dedos em riste, como se empurrasse algo para a direita, e Caliel pôde observar a abertura de uma porta retangular, revelando um interior luxuoso. Os três entraram, e Jacques sentou-se no banco da frente, colocando a mão sobre um painel escuro, ligando todo o interior do veículo. Uma série de controles por meio de hologramas apareceu na cabine, de modo que Jacques se encontrava com um tipo de capacete, e duas manoplas de holograma em volta de suas mãos.
Com um movimento usando ambos os braços o veículo começou o movimento, assumindo uma velocidade incrível, o que faria Caliel se estatelar contra a porta, no entanto Hermes o segurou, e já tratou de levá-lo para o outro vagão, pois sabia que quando seu pai não falava nada daquele modo ele não queria companhia. Chegando ao outro vagão Hermes se assentou pondo as pernas para cima, Cal se sentou no outro banco de couro marrom. O vagão lembrava um trem antigo, com mesas de bilhar e bares, seria comparado a um avião particular atual, e como havia monitores, Caliel não estranhou quando Hermes pegou o controle e ligou a TV perguntando a Cal:
_ Russas ou Asiáticas?
_ Como?
_ Você prefere Russas ou Asiáticas?
_ Não sei...
_ Ah! Então vão ser Russas – Disse Hermes, mudando o canal e de repente na tela da TV mulheres nuas começaram a rebolar, Caliel arregalou os olhos e deixou um fio de baba lhe escapar pelo canto da boca, quando o fio pingou em sua perna, ele se deu conta e pulou da cadeira. Hermes riu e completou:
_ Cachorros ou Cavalos? – Caliel respirou alto como se esperasse uma grande pancada, tampando os olhos a cada rebolado da mulher na tela, e arregalando ainda mais ao perceber a pergunta de Hermes, que logo parou de brincar, às gargalhadas, desligou a TV. Caliel estava nervoso:
_ Nunca mais faça isso! ...
_ HaHaHa! Eu sei que você gostou Cal, mas parece que você tem vergonha, então é melhor mudar de assunto, não? Me diz... Qual a sua classe?
_ Classe?
_ Você sempre tem essa mania de falar pouco? É, qual classe de especialista você é?
_ Nem sei o que são essas malditas classes, como vou saber a qual delas eu pertenço? – Hermes se ajeitou quando o veículo trepidou um pouco, e se preparou para explicar:
_ Bem, eu entendo que os calouros normais não saibam suas classes, ou nem saibam o que são as classes, mas nós nobres não temos ascensão tardia, eu, por exemplo, usei a primeira técnica aos 10 anos. Mas pelo que meu pai me contou você estava perdido no mundo leigo, então é compreensível.
Mas pra você não nos fazer passar vexame, eu vou te ajudar sempre, afinal somos de certo modo parentes. As classes são divisões criadas há muito tempo para classificar melhor os especialistas, de acordo com suas habilidades e técnicas.

É bem simples no começo, esse ano, passaremos pela prova de seleção da classe básica, que a cada ano em Bongor vai ganhando uma ramificação... Espera só um minutinho... – Hermes foi até o vagão de seu pai, e voltou com um papel dobrado na mão, ele o pôs no chão e o abriu, revelando uma série de escritos:


Agressor (I):

                      .Físico (II):

                                         .Armado (III):
                                                                  .Lâmina (Espada, Sabre, Guilhotina)
                                                                  .Quebra (Maça, Porrete, Meteoro)
                                                                  .Extensão (Lança, Chaku, Bastão)
                                         .Desarmado (III):
                                                                  .Punho (Sutil, Forte, Destrutivo)
                                                                  .Perna (Dinâmica, Velocista, Seqüencial)
                   .Projétil (II):
                                         .Elemental (III):
                                                                 .Naturalista (Herbalista, Animalista)
                                                                 .Basicista (Alquimista, Mecânico, Shaman)
                                                                 .Imaterialista (Espectro, Necromântico, Bruxo)
                                         .Material (III):  
                                                                 .Arqueiro (Incorporador)
                                                                 .Pistoleiro (Precisão, Explosão, Perfuração)
Defensor (I):
               .Próprio (II):
                                     .Interno (III):
                                                             .Escapista (Enganador, Clone, Manipulador)
                                                             .Superatista (Corpista)
                                     .Externo (III):
                                                             .Escudeiro (Elemental, Casulista)
                .Alheio (II):
                                     .Preventista (III): •••. Trocadores  

                                     .Remedialista (III): •••. Médicos


Hermes apontou para Caliel os escritos com o (II) ao lado, e começou a explicar:
_ Esses quatro são as classes básicas, é o que designa seu perfil de especialista. Muitos tentaram ir contra a seleção inicial, e não teve um bom desempenho, eu sou um físico, ainda bem, pois agressor é o domínio mais renomado, os defensores não deixam de ser importantes, mas acabam sendo coadjuvantes em Bongor. Mas não se preocupe, considerando que você é um Boncheummer você deve ser Projétil... – Logo após a explicação breve de Hermes, o veículo suntuoso freou suavemente, fazendo Jacques vir ao encontro dos garotos, não mais com a expressão calma e confiante que esbanjava na mansão, em verdade ele parecia bem assustado, com as pupilas reduzidas ao mínimo.
_ Mudança de planos garotos, irei encontrar Aurélio mais cedo, a escada está logo ali fora, o novo diretor se chama Helenus, eu me comuniquei com ele, e ele estará esperando vocês dois pessoalmente no fim da escada, aproveitem garotos, afinal o novo mundo é de vocês! – Jacques se esforçou para sorrir, deixando mais evidente de que alguma coisa estava acontecendo.
Ao sair do veículo o sol do lado de fora estava alto e imponente no céu, dificultando um pouco a permanência de olhos abertos. Virando a cabeça um pouco para a esquerda Caliel podia ver que estavam em um tipo de estação ferroviária, com um arco simples, e logo após a construção singela e branca havia uma escadaria imensa, se estendendo além das nuvens, não permitindo então, observarem o seu fim. Na base havia uma espécie de rochas de mármore, uma de cada lado, tudo ali era coberto por uma grande quantidade de areia, dificultando a visão total do que se encontrava ali.
Hermes começou a subir os degraus e chamou Caliel com um aceno de cabeça, e assim os dois começaram a subir a escadaria, em rumo a tão esperada escola. Passaram-se alguns minutos de subida, minimizados pelas conversas sobre experiências de infância, que mais se assemelhavam a monólogos de Hermes pelo fato de Caliel não ter quase nada para contar-lhe. Aos poucos a atmosfera perdia aquele aspecto seco e quente, e o ar se tornava bem mais agradável, na verdade, em volta deles tudo se encontrava branco e agradável, como se estivessem presos no infinito. Hermes disse que já estavam chegando, Caliel retrucou perguntando se ele já havia estado em Bongor, levando à negação cabisbaixa de Hermes, que ao levantar a cabeça apontou para uma sombra no fim da escada. Devia ser o tal diretor, disse ele.
Eles apressaram o passo e ofegantes chegaram até um homem usando um terno preto fino, que se encontrava olhando para o outro lado. Hermes apoiou as mãos sobre seus joelhos que estavam retesados e dobrados de cansaço. O homem não se virou, e falou com uma voz incrivelmente aconchegante:
_ O vazio é tão bonito quando olhamos por muito tempo, mas vocês vieram aqui para entrar na escola, estou certo? – Só então ele se virou, revelando um rosto extremamente jovem, olhos pequenos e bondosos, cabelos loiros cacheados, que fizeram Caliel se questionar se aquele adolescente era mesmo o tal diretor, encarando os olhos pequenos dele. Foi interrompido por Hermes que se pronunciou ofegante e desajeitado:
_ Na verdade eu vim pelas meninas, bro! Falando nisso, você sabe cadê o tal diretor? Meu pai disse que ele estaria aqui.
_ Ele é o diretor – Disse Caliel convicto, não sabia por que tinha tanta certeza daquilo, o homem então o encarou finalmente, com o mesmo sorriso no rosto, sem falar nada, Hermes ficou olhando por baixo das sobrancelhas aquela troca de olhares e não resistiu:
_ Cara... Isso tá muito gay... – Fazendo Caliel desviar o olhar e enrubescer o rosto – Mas se você é o diretor, porque não vamos logo para Bongor? Meu primo falou tanto que eu to louco para ver as meninas... eeer... Quer dizer, a escola.
_ Sim claro... Perdoe-me, meu nome é Helenus, e sou o diretor da escola Bongor De’ Grinn a partir deste ano, seu pai pediu pessoalmente que aceitasse vocês dois, mesmo as aulas já tendo se iniciado, mas como vocês são nobres... – Ele então começou a mexer no bolso do paletó retirando entre os dedos uma bússola prateada. Ao abri-la, o chão da escada se abriu e uma coluna cor de esmeralda começou a se erguer, até revelar no centro uma porta talhada com detalhes minuciosos.
Era imensa, tanto por altura quanto por largura, passariam tranquilamente centenas de alunos ao mesmo tempo.
_ Ouvert – Pronunciou Helenus calmamente, e a imensa porta se abriu. O diretor entrou então sendo seguido pelos dois garotos, que ao cruzarem aquela imponente obra de arte se encontraram em uma nova realidade, eles estavam no pátio central de Bongor. No chão abaixo dos pés deles, havia um símbolo lindo e imenso dividido em quatro partes, mais a frente uma belíssima fonte de água jorrava jatos calmos e ao mesmo tempo ariscos, para todos os lados havia árvores aconchegantes, e ladrilhos brancos. Caliel e Hermes olhavam perplexos para todos os lados, imponentes construções ao norte, um campo de flores ao leste, e uma imensa ponte ligando o Oeste a um penhasco ao fundo. Alguns alunos passavam por eles por todas as direções com os uniformes que eles usavam e mochilas ou montes de papéis nos braços. Mas todos, sem exceção portavam um tipo de pingente, seja amarrado em torno do punho, ou no pescoço, todos emanavam um tipo de energia, e Caliel podia senti-la, mas decidiu perguntar o que era aquilo depois.
Um grupo de meninas passou e sorriu para os garotos, fazendo Hermes ir logo se precipitando, mostrando que iria correr atrás delas, quando o diretor o segurou pela gola da camisa sem mover nenhuma parte do corpo além do braço direito.
_ Calma, você terá tempo para isso depois, mas por agora vou mostrar-lhes as acomodações. Como vocês são do primeiro ano, vocês não passaram pela análise de classe, então vocês ainda não tem acomodações apropriadas, por isso, irei levá-los agora para fazer o teste.

Capítulo 7 - Jacques


A explosão foi tamanha que rapidamente atraiu a atenção de uma multidão incrivelmente grande, buscando a fonte de tal poder. Roy sabia que era perigoso deixar tanta gente saber do paradeiro de Caliel, e ainda mais que ele fora o culpado por tal destruição da loja de Siegfried, que permaneceu estático atrás de seu balcão, sem saber o que falar. 
Após trocar olhares mudos com Siegfried, Roy decidiu com calma tomar rapidamente a frente daquela situação, e arregaçando a manga de seu antebraço ele mostrou um tipo de tatuagem para todos ali presentes, e disse de forma bem audível:
_ Caros cidadãos, desculpem pelo transtorno, este foi um treino de equipamento do exército, peço que voltem aos seus devidos locais organizadamente, não há nada para se ver aqui. – Mesmo com alguns retardatários desconfiados permanecendo tempo demais naquele local, eles sabiam que por mais estranho que fosse o fato de um garoto estar desmaiado no chão, e tamanha explosão ser suspeita, uma ordem direta de um militar graduado como Roy não era de prudência ser ignorada. Mesmo assim um homem de estatura média e óculos circulares, com a cabeça meio calva permaneceu em pé na frente do buraco aberto na loja de Siegfried. Roy lhe lançou um olhar ameaçador, o qual o homem retribuiu com uma expressão serena, replicando:
_ Calma calma , general Ford, meu nome é Arlequim, eu sou professor da escola preparatória Bongor De Grinn, vim aqui para pegar alguns materiais com Siegfried, aliás, ele está?
_ Quer dizer então que não está curioso sobre o que aconteceu? ... Sim ele está, mas perdoe o interrogatório, mas o senhor é professor de qual disciplina em Bongor?
_ Sou o professor novato de treino armado, e sim estou curioso sobre o que aconteceu, mas se o senhor diz que o jovem nobre deitado ali não tem nada a ver com este pequeno acidente, não há nada para se perguntar – Ele mantinha o mesmo sorriso amigável, que começou a deixar Roy desconfiado. Mas um professor de Bongor não era uma ameaça, então ele retribuiu:
_ Tudo bem, se o senhor não se incomodar, será que me ajudaria a levar o garoto até outro lugar?
_ Claro ilustre general.
E durante o transporte, Roy disse ao professor tudo o que tinha acontecido ali, e o professor o ajudou a levar Caliel até o chão da loja, onde paramédicos já aguardavam. Caliel tinha machucado a palma das mãos quando desmaiara. A nuvem sináptica que o rodeava pulsava energia continuamente, Roy arregalou os olhos, nunca havia visto alguma coisa parecida com os anos de experiência que possuía.
Caliel foi tratado, e Roy o levou de volta para a mansão, possibilitando o repouso do jovem. Se passaram algumas semanas e ele não acordava, todos na mansão estavam apreensivos, quando de repente, com um suspiro longo e reativo, Caliel levantou de forma abrupta, segurando firme os lençóis, e deixando expostas as veias de seu pescoço. Rapidamente entraram no quarto Roy, seguidos por dois médicos, que acalmaram Caliel e lhe perguntaram o que ele sentia. Com a voz arrastada e cheia de dor, ele respondeu:
_ É como se minha cabeça estivesse em chamas – Disse o garoto quase lacrimejando com a dor. Um dos médicos, o mais alto, correu para o lado da cama, e pôs as mãos ao lado da cabeça de Caliel, dizendo:
_ Technique Premonition – Diagnostic – E logo após usar a técnica deu um salto para trás com os olhos arregalados, gritando:
_ Não consegui permanecer olhando, é muita informação, ele vai morrer se continuar assim.
_ Mas o que devemos fazer? – Disse Roy, totalmente desesperado.
_ Infelizmente não podemos fazer nada, porém, podemos amenizar um pouco a dor, mas pelo que eu vi, toda essa informação terá que ser absorvida de alguma maneira. Enquanto todos falavam, Caliel virava seus olhos, e de repente começou a falar com a voz desfigurada:
_ O puro irá nascer, o puro irá nascer, o fim está próximo. Então simplesmente tudo passou, os olhos de Caliel voltavam ao normal, e aquela dor de cabeça tinha cessado. Ele tinha assimilado aquelas informações, percebendo então a fome que sentia, solicitando logo comida às servas que se apresentavam na porta.
Caliel esticou os braços se espreguiçando como um felino, e percebeu finalmente, ao passar os olhos pelo quarto, os olhares vazios de Roy e ambos os médicos, e mesmo sem entender o porquê daqueles olhares de espanto ele se levantou, calçou os chinelos e se dirigiu a Roy perguntando:
_ Como vim parar aqui? Não faltavam alguns itens a serem comprados?
_ Co...como é possível, o senhor não lembra de nada? – Indagou Roy.
_ A última coisa que me lembra é de ter colocado aquele ampliador de fenda sináptica. Na verdade... estou ansioso para ir para Bongor, devem haver muitas coisas a serem aprendidas.
_ Mas senhor, você passou semanas desacordado, além disso, as aulas em Bongor começaram há alguns dias, mas o senhor não está em condições de ir ainda.
_ Deixe-o ir Roy, até parece que você não entendeu o que aconteceu aqui. Disse alguém com uma voz extremamente grave. Todos olharam em volta, mas o quarto não tinha ninguém além deles, a voz voltou a dizer:
_ Meu filho também não foi para Bongor ainda – de repente na parede ao lado de Roy um círculo negro surgiu sutilmente – Portanto, nada melhor do que irem juntos – lentamente foi delineado o contorno de um corpo escuro, e num piscar de olhos um homem de olhar altivo, usando óculos finos de grau, com os cabelos grisalhos brotando em meio seu fio de juventude. Era difícil definir sua idade, devido à sua postura extremamente madura, mas repleta de vigor. Seu corpo era esguio e estava vestido com um sobretudo roxo escuro de mangas bordadas com dourado, uma blusa fina e branca por baixo, e um belo anel ornamentava sua mão direita, a qual se dirigiu até a face de Caliel de uma forma tão serena que ele nem se moveu.
_ Realmente você se parece muito com Viktor, onde será que ele foi parar...
_ Quem é você? – Disse Caliel se afastando para tirar a face das mãos suaves do estranho.
_ OH! Onde está minha educação, meu nome é Jacques Gorbatchev, herdeiro regente da casa dos portais, e Ministro de Proteção de Genesys.
_ Genesys?
_ Sim ora, o “mundo” dos especialistas.
_ Pera... Você disse Gorbatchev, então isso quer dizer que...
_ Sim Caliel, ele é um dos quatro nobres regentes, seu título é Jacques, aquele que salta. Meus respeitos senhor, mas como guardião da casa dos Boncheümmer, não posso deixar o mestre Caliel ir para Bongor nestas condições, contudo, mesmo que pudesse, ele não terminou ainda de comprar os materiais necessários...
_ Já providenciei tudo Roy, partimos ao anoitecer, até lá o garoto tem tempo para se recompor, é evidente a sede dele por saber mais meu caro.
_ Mas o trem para Bongor não parte mais essa semana senhor...
_ Eu mesmo os levarei, preciso tratar alguns assuntos com Aurélio. Então esteja pronto em 3 horas meu jovem herdeiro – E assim o homem virou seu corpo em direção a parede de onde surgira e subitamente o círculo negro ressurgiu, dando à parede um aspecto de plasma escuro. O ministro passou pelo plasma naturalmente, ignorando todas as leis da física, antes mesmo que Caliel pudesse perguntar algo. Ele havia se dissipado no ar.
Roy aconselhou Cal a obedecer, e enquanto o garoto subia as escadas sem se situar naquela situação toda, foi instruído a tomar seu banho, que logo logo o almoço estaria servido, ele pegou um pedaço de pão na mesa e antes mesmo de chegar aos últimos degraus ele já havia devorado por completo o pão de ervas.
Ele almoçou e se arrumou, ansioso com o que lhe esperava, o aval que ele queria a meses, que lhe fez por um momento esquecer-se de algo fundamental, de certo modo essencial para ele. Perguntou a Ford:
_ Roy... E Illik, voltou qual dia? – Roy se encontrava sentado na poltrona com os dois enormes braços cruzados, que se retesaram ao escutar a pergunta de Caliel, fazendo-o curvar seu corpo na direção da janela, dizendo por baixo de seu bigode espesso:
_ Bem Caliel... Você não precisa se preocupar, ele vai voltar logo logo... Mas ninguém tem notícias dele desde quando ele saiu.
_ Então eu me recuso a ir para essa escola, nunca fui a nenhuma e não me fez falta alguma. Vou procurar Illik, e se você não vier vou sozinho. – Caliel já estava com o rosto vermelho como brasa quente ao gritar isso a Roy, sua veia do pescoço se encontrava pulsante.
_ Isso não é trabalho para um nobre – Inferiu Jacques, chegando desta vez pela escada inferior do salão principal.
_ Mas ele é meu amigo, como posso ficar tranqüilo sabendo que ele está perdido por aí.
_ E você espera encontrar ele como? Ou melhor, e se você chegar a encontrá-lo, provavelmente deve haver inimigos fortes. É mais prudente seguir Jacques. Além disso, todas as brigadas de rastreadores do Norte estão investigando o caso, é uma questão de tempo até acharmos ele. - Observou Roy de modo convicto e confiante, automaticamente acalmando o impulso de fúria de Caliel, que suspirou por 30 segundos, até conseguir finalizar:
_ Então eu vou com ele, mas se você tiver qualquer notícia, me comunique imediatamente? OK?
_ Certo senhor, e tenha cuidado leve contigo seus amplificadores. E não se esqueça de aproveitar. – Com as mãos no cabelo de Caliel, foi o que disse Roy de modo extremamente carinhoso, como um pai. O garoto se pôs de prontidão em frente a Jacques que fumava um charuto, e ao perceber a presença de Caliel desencostou da pilastra e já foi tratando de começar o percurso até o jardim da mansão.
_ Já está pronto?
_ Sim, posso não gostar, mas no fim você estava certo, nada sei desse mundo, como poderia fazer algo? No máximo conseguiria me perder por aí.
_ Sábia reflexão meu jovem, vamos, meu filho está esperando no jardim, vocês tem de se conhecer também – Finalizou Jacques andando tranqüilo até a porta. Do lado de fora um garoto de cabelos castanho-claros jogados em diagonal tampando completamente um de seus olhos, usando uma calça social clara, uma blusa com as mangas compridas arregaçadas até os cotovelos, e um colete. Caliel lembrou-se de que aquele era o uniforme que comprara, com isso, voltou correndo para a casa e já na porta estava a mesma governanta de sorriso agradável. Ela tinha o uniforme de Caliel nos braços, ele pegou e trocou de roupa na própria sala de estar.
Quando ele terminou, saiu rápido, mas não adiantou muito, pois a expressão de Jacques não estava muito agradável, Cal se aproximou desculpando-se:
_ Eu não sabia que tinha que ir com o uniforme, atrapalhei muito a partida senhor Jacques?
_ Oh meu jovem, não não... Mas vamos indo, os assuntos se tornaram mais urgentes. A propósito, você não conhece meu filho, seu nome é Hermes. Hermes venha cá, estamos partindo – Gritou Jacques para o garoto, que abordava uma criada com uma cesta de frutas nas mãos, ele veio correndo pegando um pedaço de papel nas mãos da criada. Cumprimentou Caliel de modo desajeitado e sorridente.
Após as cordialidades, Jacques inferiu:
_ Então estamos todos prontos, tenho que lhe perguntar uma coisa primeiro, Boncheummer, você já viajou por portais complexos?
_ Sinceramente não sei... – Disse Caliel se lembrando quase imediatamente de como chegou aquele lugar, e contou: Só quando cheguei aqui, por meio de Gondolous, acho que aquele é um portal não é?
_ Ah! Então não teremos muito problema. Mas Bongor foi construída diametralmente em relação ao espaço e tempo, de modo que a única forma de chegar à escola flutuante é pela escadaria principal, mas o ponto de teleporte mais próximo dela fica no deserto de Tungook, de onde parte o trem para Bongor, mas como não há nenhum hoje iremos a pé, algum problema?
_ Claro que não, sempre fui acostumado a andar bastante, mas a viagem não é perigosa? Afinal é um deserto.
_ Em verdade é muito perigosa, mas meu pai é um dos 4 nobres regentes, além disso, ele esqueceu de mencionar que é um octóide. – Intrometeu Hermes.
_ Octóide?
_ Ah! Vamos aprender isso na escola, é só relaxar e deixar tudo acontecer bro! – Disse Hermes com os olhos cansados e uma expressão calma, dando um soco leve no braço de Caliel.
_ Perdoe meu filho, ele ainda não perdeu esses costumes estranhos, mas não há nada com o que se preocupar, vou abrir o portal para o deserto de Tungook, se afaste, por favor – Nesse momento Cal e Hermes se afastaram, respeitando o homem, que começou a fazer movimentos circulares com os braços, como se estivesse rolando uma esfera por entre os dedos. Ele bateu as palmas das mãos abrindo a fenda sináptica, fazendo o ar ficar mais rarefeito ao seu redor. Abriu as pernas, e continuou rotacionando as mãos, quando pronunciou:
_ Technique de Vestibule - Chemin de l'utilisation – O contorno do círculo negro surgiu, e ele continuou sem cessar o movimento:
_ Technique de Vestibule - Ouverture de la Porte – O círculo começou a girar, e a atmosfera no centro dele começou a ficar mais densa, visivelmente mais densa, tomando uma textura diferente. Ele prosseguiu:
_ Technique de Vestibule - Direction: Desert Tungook – Completando a técnica com símbolos circundando o portal, e finalmente com a estabilização do ar em torno e dentro do portal, que não parava de rodar, porém agora, com uma velocidade quase imperceptível.
Roy se adiantou, e despediu-se de Caliel pondo a mão em seu ombro, dizendo:
_ Cuidado, e lembre-se, você é singular, mestre Boncheummer – Hermes foi o primeiro a passar normalmente pelo portal, que brilhou por alguns segundos, mas retomou sua forma. Jacques acenou para todos e repetiu o processo, e finalmente era a vez de Caliel. Olhou pela última vez para Roy, buscando algum conselho em seus olhos, o general indicou o portal sutilmente, então com a respiração presa , Caliel passou pelo portal, ficando desnorteado, caindo de joelhos na areia fofa sob o sol escaldante do deserto de Tungook.

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